Com o Professor João Bosco Santos compartilhamos as
mesmas escolas até a 2ª série do 2º grau, inicialmente o 1º grau na Escola
Estadual Olavo Bilac nas gestões do Professor José Carlos e o Professor
Lisandro Machado e depois o 2º grau na escola Estadual de
1º e 2º grau Governador Augusto Franco, mas quando nos conhecemos de fato foi
no I Encontro Municipal de Juventude Negra de N. Sra. Socorro/SE.
Ocasião em que o Profº. Bosco era Secretario Adjunto da
Cultura da Prefeitura Municipal de Nossa Senhora de Socorro/SE, onde ele era um
dos organizadores juntamente com Cristiano Conceição e Jane Selma. Em seguida fui cabo eleitoral
em sua campanha para vereador no município de Nossa Senhora do Socorro. Sempre
envolvido em várias lutas sociais, muitas voltadas para ações de melhoria no
município em que reside.
Suas atitudes enquanto militante social e de politicas de
igualdade racial sempre fizeram minha admiração por ele crescer em larga
escala, mas uma das minhas maiores contemplações é ver seu imenso amor e
dedicação à família, sentimentos quais ele faz questão de publicar nas redes
sociais.
Diz o professor
Bosco: “Desde pequeno
eu já destinava parte dos recursos do meu trabalho como engraxate
como engraxate e vendedor de
jornais, para o sustento da casa, sempre procurei ajudar meus irmãos e irmãs.
Nós morávamos numa Vila de Quarto no bairro Santos Dumont na rua José Gomes de
Almeida, diante dessa situação passei a fazer cadastros em diversos programas
residenciais e de conjuntos habitacionais, até conseguirmos uma casa no
Conjunto Marcos Freire I, mesmo no inicio onde o sistema de transporte urbano
era precário, passei a morar no Marcos Freire, porque quem ganhava uma casa na
época era obrigado, imediatamente a ocupa-la, só depois que melhorou a oferta
de transporte público é que minha mãe e meus irmãos foram morar comigo, depois
que casei comprei uma casa no conjunto Marcos Freire II para minha mãe.
Em 1991 resolvi casar
com Adalcy Costa dos Santos, também professora (atualmente
leciona artes no colégio Estadual Ministro Marco Maciel) fomos admitidos pela
secretaria estadual de educação ao mesmo tempo, fruto do mesmo concurso, tenho 3 filhos: Adriel Agnes Costa
Santos 11 anos de idade, Beatriz Agnes Costa Santos 13 anos de idade, Brena
Agnes Costa Santos 18 anos de idade, atualmente cursando direito na FASE, meu foco principal é a
família, sou feliz pois somos uma família unida, sempre tivemos juntos nos
momentos bons e nos momentos ruins, recentemente procuramos juntos ajudar minha mãe que teve um agravamento de saúde por causa da
diabete”.
João Bosco Santos,
nasceu em Propriá-SE em 19 de março de 1968
e nos relata um pouco da sua história:
“Minha história
começa na cidade de Propriá, uma cidade ribeirinha, sou de
uma família de 6 filhos, de mãe solteira, pois
meu pai nunca viveu com minha mãe e minha mãe teve que nos criar
sozinha, Propriá era uma cidade tranquila, banhada pelo rio São Francisco, de
repente Propriá começou a ter problemas com sua economia, quando as pessoas
começaram a migrar para Aracaju, minha mãe resolveu vim para Aracaju mas não
pôde trazer todos os seus filhos, trouxe só a metade, primeiro os mais velhos
deixou 2 na casa de familiares e no meu
caso eu fiquei na casa de um casal amigo da minha mãe, minha mãe foi trazendo para Aracaju um por um, até chegar minha vez
de vim para Aracaju, cheguei em Aracaju
na, década de 70, logo foi necessário trabalhar para ajudar nas
despesas da família eu fiz uma caixa de engraxate e passei a engraxar sapato no
calçadão de Aracaju, peguei carrego no mercado, vendi coel, o famoso coel da
época, sonho com suco ou pastel com suco,
fui vendedor de jornal, trabalhei
numa panificação, trabalhei no G. Barbosa, até que
cheguei no SESC, no SESC seguir carreira, passando por várias funções, coordenador de apoio operacional, gerente de
programa, dentre outros, atuando inclusive no Sesc Socorro. Estudei o pré-escolar
na Escola Municipal Manoel Eugênio,
o primeiro grau no Colégio Estadual Olavo Bilac, o segundo grau no colégio Estadual Governador
Augusto Franco todos situados no Bairro Santos Dumont, continuei o 2º grau no
Colégio Estadual Atheneu Sergipense e o Ensino Superior no curso de letras da UNIT, pois
não havia o curso de letras noturno na Universidade Federal de Sergipe,
como eu trabalhava pelo dia tinha que estudar à noite, mesmo trabalhando no SESC eu
passei no concurso público do estado,
qual tenho 11 anos trabalhando e 24 anos de trabalho no SESC.”
O professor João Bosco ainda criança estudou no
Colégio João Fernando de Brito em própria,
quando criou o primeiro conceito
de socialismo, e apaixonou-se pelo socialismo segundo João Bosco “a
sociedade socialista é uma sociedade justa a igualitária”. Iniciou sua
militância politica no movimento estudantil, participando do Grêmio Estudantil
do Colégio Augusto Franco (Grêmio escolar Mario Jorge, criado por mim) na
companhia de Aninha, criando paixão pelo movimento estudantil e pelas lutas
políticas prosseguiu atuando na faculdade como presidente do centro acadêmico
de Letras, dessa forma fazendo da política uma bandeira de luta, passou a
participar da juventude do PDT, onde
passou muitos anos, mesmo sem se filiar ao PDT, época onde fazia parte do
partido Leonel Brizola e o PDT estava no comando aqui em Sergipe por Almeida
lima e Carlos Alberto Menezes. Dando sequencia a sua vida política ingressou no
PCB – Partido Comunista Brasileiro (o Partidão). Tornando-se secretário político (presidente
municipal) do diretório municipal do PCB em Nossa Senhora do Socorro, como
reconhecimento ao seu trabalho foi conduzido à presidência do PCB estadual,
onde passou mais de 20 anos militando.
para divulgar o partido foi
diversas vezes candidato a vereador e a senador da república. Diz o Profº. João Bosco: “Dediquei mais 20 anos da minha vida
a luta pela construção de uma sociedade justa e igualitária e tenho certeza que
ao longo dessa militância nós plantamos uma semente em cada canto que passamos,
pois pegamos o partido comunista depois do racha de 1992 em que Roberto Freire
quis liquidar o Partidão, em Sergipe Roberto Freire levou com ele militantes
importante para o PPS, deixou o partido comunista praticamente vazio, nós
abraçamos essa causa percorrendo o estado de Sergipe, apenas eu e os saudosos camaradas
Agnaldo Pacheco e Antônio Moreira Matos e a camarada professora Marlene Melo, percorremos praticamente
todos os municípios de Sergipe, naquela
época tinha que ter filiados, para continuar existindo, nós quatros saímos em
porta em porta para convencer as pessoas a se filiarem ao PCB, muitas vezes
comendo bolachão com guaraná Marita para que o Partidão continuasse existindo
e resistindo, até hoje o PCB está de pé e é um partido importante para a
sociedade porque é um contraponto ao capitalismo. Nós deixamos de militar no
PCB por pontos de divergências no 14º congresso do partido onde o partido tomou decisão de se fechar cada vez
mais, entendendo que devia marchar
sozinho, como nós temos entendimento que sozinho nem partido, nem ninguém vai a
lugar nenhum defendemos a abertura do partido para que fizesse coligação e
militância conjuntamente com outros
partidos (PSTU, PSOL, PCO), nossa ideia
não prevaleceu por isso daí
resolvemos declinar do partido. Depois do PCB não me firmei em nenhum outro partido, no momento estou participando na construção do
PMP – Partido da Mobilização Popular e contribuindo com o Partido Municipalista
e Partido Ecológico Cristão, vários partidos têm pedido nossa ajuda.”
Como ator participou do grupo de jovens (GLS) da igreja São Francisco de Assis no bairro
Santos Dumont, onde criou um grupo de
teatro como alternativa de participação social dos jovens, fazendo intercâmbio
com o grupo de teatro IMBUAÇA, participando da realização de oficinas, o que
o fez se apaixonar pela profissão de ator e levando-o a fundar o grupo de
teatro 14 BIS e através dele encenou vários espetáculos a exemplo da peça “
Dezessete e setecentos” baseado na música de Luiz Gonzaga e na cultura popular
das feiras livres, esse espetáculo
circulou por muito tempo no estado, em
seguida se aproximou do grupo Mambembe,
junto a RaimundoVenâncio, Vírginia
Lúcia, Tárcio, etc. Fruto dessa vivência, tomou a decisão de
profissionalizar-se como ator, passando por todas as exigências do SATED _
Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de
Sergipe, conquistando assim a sua DRT nº 194, sendo aprovado com uma excelente
média. Como ator profissional passou a
atuar no SESC na área de teatro, dirigindo
um grupo de teatro para a 3ª Idade,
aonde montou vários espetáculos a
exemplo do “Matuto com Balaio Maxixe” qual apresentou-se em vários estados do
Brasil, inclusive em Brasília no encontro cultural
para terceira idade, atualmente é Analista em Artes Cênicas, à frente de vários projetos, como o circuito
SESC de teatro, Dramaturgia – Leituras em Cena, Palco
Giratório, além dos cursos de Dança de Salão e Dança do Ventre.
Parte da história do Profº.
João Bosco está voltada para sua participação nos movimentos negros diz João
Bosco “Aqui no estado o maior avanço do movimento negro foi a partir do
primeiro mandato do presidente Lula quando ele cria a SEPPIR - Secretaria
Especial de Politica de Promoção da Igualdade Racial com isso os estados,
principalmente os estados administrados por governadores petistas e aliados do
PT criam as coordenadorias de politica de igualdade racial, nós tivemos a felicidade em um desses
momentos de estarmos como Secretário Adjunto da Secretaria de Cultura de N.
Sra. do Socorro, onde fizemos com quê o município se filiasse
ao FIPIR – Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial, quando o município
abraçou a política de igualdade racial, embora
eu não esteja mais trabalhando na Prefeitura Municipal de Socorro essa semente
ficou plantada de maneira que está acontecendo até hoje, onde também a
prefeitura está construindo um espaço exclusivo para artes cênicas e o MINC
reconhecendo esta participação traz projetos ligados à cultura negra, mais há muito a lutar, para que seja criado
uma secretaria de política de igualdade racial independente com recurso
específicos, já que atualmente esta coordenadoria está ligada aqui no estado a
Secretaria do trabalho. Mas minha luta continua e estou sempre participando dos
encontros nacionais de igualdade racial também temos militância na UNEGRO –
União de Negros pela Igualdade, vejo que este movimento é necessário, através
desta luta na busca de igualdade racial estamos levando cursos para comunidade,
também para comunidade de terreiro,
realizamos algumas oficinas nos
terreiros de Aracaju e
Socorro, de maneira que a comunidade
aprende artesanato e cria uma sustentabilidade econômica. Agregado a essa capacitação cadastramos as
pessoas desta comunidade a participar do
projeto da CONAB onde são distribuídos feijão e arroz, etc”
Em relação às cotas
raciais compartilhamos a ideia de que o Brasil tem uma divida com os
negros, depois de muito anos de
exploração com mão de obra escrava, as cotas é uma pequena parcela do que o
Brasil realmente deve recompensar os negros, que ajudaram a construir esta
nação debaixo de espancamentos, suor e lágrimas. Lembramos que entre a população de baixa
renda, a maioria é formada por negros, se não fosse as cotas jamais teríamos
acesso dos estudantes das escolas públicas a cursos por muito tempo elitizados,
quando o ensino publico tiver condições de permitir aos seus alunos competir de
igual para igual com alunos das escolas privadas, não vai ser mais necessário as cotas.
Diz ainda Profº. João
Bosco: “No momento as cotas são necessárias, os que dizem que cotas é facilidade, é tudo falácia, pois na verdade as
universidades públicas deveriam servir apenas aos estudantes da escola
pública e deveríamos criar cotas para
alunos das escolas privadas.”
- Reginaldo Paz:
Fale sobre o dia 20 de novembro dia da consciência negra.
- Profº. João
Bosco: Devemos entender essa data apenas como um grito, os negros dizendo ao
Brasil “nós estamos aqui, somos a maioria, estamos vivos e precisamos de
políticas públicas, precisamos de
atenção” é preciso entender que a consciência negra deve se dá todos os dias e
diariamente devemos ter essa consciência, principalmente nós negros, o Brasil é um país construído basicamente de
negros, mesmo as pessoas de pele clara, se formos estudar sua árvore
genealógica vamos descobrir que são descendentes de negros, é preciso entender esta lógica para acabar
com abusos, com a exploração dos negros, onde as
vezes os negros acabam se rendendo a essas injustiças, onde até a escola ensina que nós negros temos
que ficar na cozinha, fazer os serviços
mais pesados, o dia da consciência negra é importante para acordar as pessoas
que cruzam os braços e se deixam levar pela mídia.
- Reginaldo Paz:
Deixe uma mensagem para os sergipanos.
- Profº. João
Bosco: Quero falar aos sergipanos sobre a importância de entrevistas como esta
que o JORNAL DIA DIA está fazendo, que
são ações e atitudes como essa, que mantêm acesa a chama de pessoas que estão no anonimato e estão fazendo ações
sociais, que todos possam se ver através
dessas pessoas e dizer “eu também posso fazer o mesmo, eu tenho potencial e eu
posso crescer enquanto cidadão e como cidadão crítico”, quero dizer ainda que a
esperança de um país melhor, está viva, é a esperança da construção de uma
sociedade justa e igualitária que cada vez mais se aproxima, é uma dicotomia ela se afasta e se aproxima,
nós precisamos entender que esse potencial está dentro de nós mesmos, somos nós que determinamos e construímos o
nosso futuro, não fique aí pensando na
vida, levanta sacode a poeira e dá a volta por cima, diga “eu estou aqui e vou
mostrar porque estou aqui, vou construir
um processo de transformação na sociedade brasileira, na sociedade sergipana”.
Prof. Bosco - Analista em Artes Cênicas Sesc/SE Unidade Centro –
contatos: 79 8815-1698 (oi) 9809-2587
(vivo/whatsapp) 9152-5596 (tim)
WhatApps: +557998092587
MATÉRIA EM VÍDEO
Filmagem: Andréia
Carvalho Santos
Transcrição do
texto: Andresa Christy Santos (14 anos de idade)
Reginaldo Paz
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